"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

domingo, 26 de dezembro de 2010

PEQUENOS ACIDENTES COTIDIANOS

Noite de calor. Por que vestir preto? Ele vestiu-se todo em roupas claras: bermuda, camiseta, tudo bem à vontade.

Para refrescar a madrugada, um suco de açaí bem gelado na lanchonete 24 horas.

De repente, puta que pariu! O açaí derrubou-se todo por sua roupa. As garotas ao redor o olharam com escárnio (ao menos assim elas o notavam). Sua roupa clara virou roxa.

Retirou-se do local com certa vergonha do incidente. Voltou para casa pensando:

“ok! Acontece com todo mundo. Nesse exato momento, em algum lugar do planeta, deve ter uma garota em uma festa menstruando em sua calça branca. E também um garoto com ataque de diarreia enquanto transa com a garota de seus sonhos. Eu poderia estar em situação pior”.

Nesse instante ele olhou para o céu e avistou um belo manto estrelado. Esqueceu do ocorrido.

E nesse mesmo instante, em algum lugar do planeta, uma garota derrubava lágrimas em sua calça suja de sangue; e um garoto se limpava com papel higiênico no banheiro enquanto uma moça vomitava em um canto do quarto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ENTREG/ARTE

O ator se apresentava em uma sala muito simples, com algumas cadeiras disponíveis ao público, espaço modesto, grandes janelas que davam para a rua.

O ator apresentava o espetáculo e todos ali presentes prestavam atenção em sua representação. Até que um grito vindo da rua chamou a atenção de quase todos que estavam presentes naquela sala, exceto do próprio ator, que continuou sua apresentação, e um espectador, que se encantava pela arte. Os demais se deslocaram até à janela para acompanhar mais um caso de violência cotidiana.

O ator e o espectador que permaneceu sentado sabiam muito bem que a arte libertava a alma. Enquanto as pessoas não se entregassem à arte, elas continuariam presenciando a violência social.

Que bom que ainda existe quem prefira a cultura!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A NOITE DAS ESTRELAS

Ele esperou que ela pegasse no sono. Aguardou ansioso o momento de usar seu bisturi. Era noite de se tocar estrelas.

Estrelas. Foi assim que ele nomeou os olhos da amada, olhos "cheios de brilho, capazes de iluminar qualquer breu e espaço! Brilho capaz de transportar qualquer frágil homem a uma viagem para outros mundos".

Mas o homem, ao longo da história, nunca se contentou em olhar os astros sem nutrir a utopia de tocá-los com as mãos.

Ela dormia um sono profundo. Certamente efeito do calmante que foi misturado à sua bebida.

Não poderia a amada estar jogada ao sofá, onde adormeceu. Ele tomou o devido cuidado de acomodá-la na cama onde, por noites, entregaram-se aos prazeres do romance.

O bisturi estava estrategicamente guardado em seu bolso. Talvez não. Não havia ali estratégia alguma. Era mais a euforia de se arrancar os olhos da amada tão logo ela dormisse.

Ele colocou a mão no bolso, sem retirar de lá o objeto que lhe permitiria tocar com os dedos as estrelas de seu amor.

No momento em que ele decidiu arrancar do bolso o bisturi, ela despertou do sono, antes mesmo que pudesse revelar a arma do crime.

Ao olhar aqueles olhos despertos, brilhando como se fossem o sol invadindo a noite, ele não conseguiu concluir seu objetivo. Aqueles olhos eram mais lindos em seu rosto.

Transaram a noite inteira. O calmante não fez efeito.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ESQUISITOFRENIA

- Tô ficando velho.
- Normal. Mais novo não dá pra ficar.
- Eu sei, mas eu tô sentindo a velhice.
- Sei como é. Passar dos vinte e dois é assim mesmo.
- Mas vinte e dois ainda é juventude. Por que me sinto assim?
- Porque a vida tá acabando, oras.
- É. A vida tá acabando. Tô ficando velho.
- Tá mesmo. Isso dá pra ver nitidamente.
- Por quê? Tenho rugas? Falhas no cabelo?
- Não, nada disso.
- Então por quê?
- Porque você tá falando sozinho, oras.
- Não to, não! Eu estou escrevendo.
- Escrevendo, é? Hmm... Então você está criando um diálogo em que, na verdade, não tem ninguém falando nada?
- Ah... acho que é exatamente isso.
- Velho!


- É. Tô ficando velho. Mas ainda não falo sozinho. Não. Não falo sozinho. Claro que não. Por que faria isso? Imagina! Claro que não tenho motivo. Ah... Porque tô velho, né? Prefiro escrever.


Após terminar de escrever esse texto, eu falei sozinho.

Pensei:
- Acho que vou tirar a última fala. Por quê?
Falei comigo mesmo:
- Porque não vai ter o efeito que quero!

domingo, 24 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A MÁXIMA DAS RESPOSTAS NÃO DADAS

É possível fugir das perguntas que lhe fazem, mas as respostas que tu calas acompanhar-te-ão os pensamentos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SANGUE-DE-SER-HUMANO

Sou uma barata. Quero falar com você. Não, por favor, não me pise! Só quero desabafar!

Sei que não sou muito limpa, é fato. Mas o que me atrai para cá é justamente essa sujeira toda! Bem... às vezes precisamos dividir nosso habitat com o próximo, não? Não?! Enfim, espero não lhe chatear demais.

Preciso confessar: estou brava. Muito brava! É horrível quando ninguém respeita as diferenças! Tão logo apareço e tenho que ouvir gritos estridentes de mulheres. Porra, eu não grito quando vejo alguém diferente de mim! Pior mesmo é ser agredida pelo simples fato de eu estar de passagem. Aí vêm sapatos, chinelos, spray, o que tiver, tudo em cima de mim. Por favor, eu só quero que respeitem meu espaço!

Esses dias eu estava procurando algum lugar para dormir. Acabei entrando em uma casa de gente mal educada. Um homem sentando no sofá, uma mulher sentada à mesa. Eu andava pela parede quando a mulher me avistou e, adivinha, soltou aquele grito irritante e jogou uma faca em minha direção! Uma faca! Voei assustada para o outro canto. Aí ela grita para o homem:

- Ai, bem! Uma barata com asas enormes! E ela voa!

O que ela esperava? Que eu nadasse? E o homem, muito educado, diz para a mulher:

- Ê, caralho! Então mata ela, porra!

É muita insensibilidade! Consegui voar para fora da casa e pude ouvir a mulher chorando, reclamando para o homem que ele não a amava mais. Eu que quase morro e ela quem chora. Se ela não tem mais amor, então o que me sobra? Ser barata é, desculpe o linguajar, foda!

Enfim, perdoe-me por tomar seu tempo. Já vou indo. Mas, para terminar, depois de tudo isso, só quero fazer uma pergunta:

O que vocês querem dizer quando chamam alguém de “sangue-de-barata”?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O PAPEL CAÍDO

R= rapaz
G= garota


O rapaz se aproximou da garota. Ele então jogou um papel no chão e disse:

R – Ei, garota! Você deixou cair esse papel!
G – Não. Não deixei, não.
R – Sim. Você deixou.
G – Não! Eu não deixei! Você mesmo deixou cair esse papel.
R – Hmm... Nesse caso, você deixou esse papel cair da minha mão.
G – Então não fui eu quem deixou cair, foi você!
R – Ok! Eu deixei cair esse papel e estou lhe entregando, certo? – diz o rapaz recolhendo o papel do chão.
G – E por que eu deveria pegar um papel que você deixou cair?
R – Ah... esqueça!

O rapaz então jogou o papel no chão e se retirou. A garota apanhou o papel, sem o ler, e foi atrás do rapaz:

G – Ei! Você deixou o seu papel no chão.
R – Ah, não me diga!
G – Você não vai pegá-lo de volta?
R – E por que deveria?
G – Porque é seu, talvez.
R – Pois está na sua mão. Agora é seu!
G – Pois não está mais!

E a garota jogou o papel no chão novamente. O rapaz o apanha e diz:

R – Ora, pegue logo esse papel que você jogou!

A garota pensou por alguns segundos e disse:

G – E se eu falar que não joguei e que deixei cair?
R – Então eu lhe devolvo esse papel que você deixou cair.
G – Tá certo. Você venceu. Me dê o papel.
R – Mas você o jogou ou deixou cair?
G – Que diferença isso faz? Acho que estamos dificultando demais as coisas!
R – Pois então pegue logo o papel!
G – Ah... agora também não quero mais!
R – Não é possível! Não é possível! Aahh!

Novamente o rapaz joga o papel no chão e se retira. A garota o apanha mais uma vez, pensa por mais alguns segundos e resolve deixar o papel ali no chão mesmo.

Um outro rapaz que passava por lá nesse instante, ao olhar o papel caído, o recolhe, se dirige até a garota e diz:

- Ei, garota! Você deixou cair esse papel.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

UM SÓ

Eu acho que estou surtando. Agora mesmo eu quis me abraçar e me consolar pela tristeza que sinto. Mas será que isso é tão desequilibrado assim?

Se bem que, como é que eu, que sou triste, poderia consolar minha tristeza se sofro do mesmo mal que eu? Se bem que, vendo por esse ângulo, só eu sei o que estou passando. Acho que darei esse crédito a mim.

Eu posso deixar que eu me console, mas não sei se eu saberia retribuir, afinal, sei que eu que me consolo sofro da mesma coisa que eu. E se eu não souber me consolar depois?

Ah... esquece! Que besteira! Eu sei que saberei me entregar a mim. E o pranto caído será um só.

sábado, 9 de outubro de 2010

PENSANDO NO CÉU

Ele era do tipo bonitão. Não era tão bom de papo, mas nunca precisou ter conversa. Sua beleza, nesses casos, era suficiente.

Sempre tinha com quem transar. Sua vida era foder, foder e foder. Gostava de se exibir para os outros e ostentava as mulheres com quem já meteu como troféus.

Nunca perdeu uma oportunidade de inferiorizar os outros e ficava sempre em alerta no caso de aparecer alguma mulher.

Ele já trepou com mais de mil mulheres e sorria para si mesmo por isso.

Diriam que ele tem tudo o que deseja. Mas não. Era uma fuga por não ter nada de concreto em sua vida.

Ele transava pensando no céu.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O TROPEÇO

O garoto andava pelas ruas, passeava feliz da vida. Subitamente tropeçou e caiu ao chão.

Todos que estavam na rua essa hora começaram a rir do garoto.

O garoto, extremamente sem graça com o acontecido, ficou calado por alguns segundos, olhando toda aquela gente rindo de sua cara. Em seguida, o próprio garoto começou a rir da situação, se levantou e voltou para casa.

Ao chegar em sua casa o garoto chorou sozinho em seu quarto.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O SEMÁFORO

Ele atravessou a rua, mas o sinal para pedestre estava fechado. Um carro quase o atropelou. Nisso, o motorista indignado para o caro e pergunta revoltado:

- Você não viu o sinal vermelho, não?!

E o rapaz responde:

- Não. Eu sou daltônico.

domingo, 3 de outubro de 2010

A OCASIÃO

Era um dia de final de semana. Ela acordou mais cedo do que costumava. Teve vontade de ler algum livro, mas o último que leu, no dia anterior, parecia bastar por aquele momento. Logo desistiu da ideia.

Ela foi se banhar. Tomou um banho caprichado, como se houvesse assim uma ocasião especial para aquele dia. Logo que saiu do banho se perfumou bem, sem exagerar na dose, mas deixando pelo ar, por onde passasse, um aroma de conforto.

Vestiu um lindo conjunto que lhe dava um toque de charme. Ela se maquilou, no intuito de ficar mais atraente. Ao se olhar no espelho sentiu-se satisfeita com o resultado da maquiagem, mas achou melhor vestir outra roupa, alguma mais bonita, alguma que lhe deixasse impecável. Assim fez.

Ela se olhou novamente no espelho. Estava incrível! Desfilou pelo quarto como se esperasse o relógio correr mais rápido, ao compasso em que seu perfume se espalhava no aposento, deixando o ar sutilmente agradável.

Após dois minutos, deitou-se em sua cama. Pensou em tudo o que não possuía, pensou bastante. Continuou deitada e assim permaneceu o dia todo.

Pegou no sono e dormiu lindamente, com toda a atenção que se deu, com todo o cuidado que se prestou, com toda a beleza que se permitiu.

Foi a ocasião mais feliz de sua vida.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

QUANDO A PAZ CHEGOU

Quando a paz chegou, ele se deitou em sua cama, ouviu uma música harmoniosa, deixou o ar entrar por entre as janelas abertas e não conseguiu pensar em coisas graves (pois estas não mais haviam).

Era a paz naquele momento. Era um silêncio interior que acalentava. Não havia lágrima, nem dor. Era aquela paz e ele.

Quando a paz chegou não pediu licença, mas tirou-lhe para uma dança. Ele foi conduzido por esta paz, ficou tomado por uma irrefutável calmaria.

Quando a paz chegou, foi isso. Quando a paz chegou, ele não entendeu o que era a paz.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O CALDO

E já não se podia escrever, pois não havia palavras que pudessem explicar. Na verdade nunca nenhuma palavra pôde explicar qualquer coisa. São subjetivas, falhas, errôneas, tortas...

Chorar era possível, isso sim! Pois o pranto não necessita explicação. Na verdade, o pranto é o caldo de tudo aquilo que as palavras não dizem.

PASSOS

Ele andava pelas ruas. Pelas ruas mesmo, não pela calçada. Não havia movimento nem carros, já que era uma noite de domingo.

Pensava na vida, andando com passos calmos – embora sua mente estivesse atormentada.

A rua pertencia a seus passos, até que surgiu um carro em sua direção. Não houve tempo para desviar, mas ele continuou seus passos, passando por cima do carro, andando sobre a lataria em movimento.

Continuou seus passos sem sentido.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A IRONIA DE MARCAR ENCONTROS

Ele atendeu seu celular:

- Alô.
- Olá! Como você tá? – era uma voz feminina muito agradável.
- Desculpa... quem tá falando?
-Ah! Adivinha! Não é difícil de acertar. – ela estava certa de que o rapaz lembraria quem era ela.
- Não me leve a mal, mas é que tanta gente tem meu celular. Como posso saber quem tá falando? – quem sabe assim ela não se revele, não?
- Nossa... você tá chamando tantas garotas assim pra sair, é? – ela sorriu, pois imaginava que era a única garota que ele chamou pra sair nos últimos dias.

Fodeu! Na verdade, não havia convidado tantas garotas para passear. Apenas duas. Mas era o suficiente para arruinar aquela conversa com a quase desconhecida.

- Claro que não! Ha ha! Acha que sou um Brad Pitt? – tentou se esquivar e ganhar tempo até descobrir quem era a garota.
- Então você sabe quem tá falando, né? – nessa hora a autoconfiança da garota já não era a mesma de antes.
- Sim... eu sei! É a... – ele chutou! Arriscou o nome.
- Quem?! Nossa! Que consideração, hein? – Merda! Ele errou o nome.

Ele não conseguiu sair com essa garota. Na verdade, ela nunca mais apareceu.

Mas e daí? Ele ainda tinha a outra garota. Era só não marcar nada com uma terceira.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

BREVE MONÓLOGO LÍRICO DA SOLIDÃO

Ele pensava, em sua solidão, na falta que fazia um diálogo. Reclamou consigo mesmo:

- Sou campeão em falar sozinho!

Mais uma vez ele falou para ninguém. Somente ele mesmo deu ouvidos a si.

sábado, 18 de setembro de 2010

A SENSIBILIDADE VEM DA RUA

A humanidade ainda insiste na insensibilidade cotidiana. Mas não aquele morador de rua que sentiu o dia de sol e observou a natureza simples ao seu redor:

- Olha só, o gato dormindo aí no muro – e dava risos sinceros por ter visto aquela cena sublime, da natureza esparramada calmamente em um muro.

Eu não teria visto o gato se o morador de rua não tivesse direcionado suas palavras a mim. Sorri com ele e respondi:

- Isso que é vida boa, heim?

Ele seguiu sorrindo. Eu também.

E talvez ninguém mais tenha notado a cena amena do gato no muro. Mesmo eu, que dou valor à loucura, não havia notado o fato. E temo ter perdido outras cenas em minhas andanças.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ROMANCE ÀS AVESSAS

Conheceram-se numa tarde de nuvens negras. Estavam em um boteco fedorento no centro da cidade junto de bêbados depravados, alcoólicos depressivos e putas melancólicas.

Ela – sentada ao balcão, com sua microsaia, expondo varizes e celulites – bebia a segunda dose de tequila, depois de vários copos de cerveja barata.

Ele – sentado a uma mesa suja e engordurada, com os primeiros botões de sua camisa abertos – segurava um copo de uísque, bebendo pequenos goles, observando a moça sentada ao balcão.

Os olhares se cruzaram. Ele coçou o saco, ela arrotou tequila.

Ele saiu de sua mesa e foi até o balcão. Perguntou a ela quanto era o programa. Mas ela não fazia programa, oras!

Conversaram. E toda conversa de bêbado rende. Ficaram horas falando besteira. Inevitável, saíram de lá e pagaram um motel qualquer.

Inexplicavelmente iniciaram um relacionamento e foram morar juntos. Claro que se traíam, afinal, não são exemplos de virtude. Mas fingiam não saber do fato.

Acordavam e tomavam juntos o café da manhã: pão velho, cerveja e geleia vencida. A televisão ficava ligada em qualquer canal desinteressante. Falavam sobre coisas fúteis, discutiam, trocavam ofensas e voltavam a mastigar o pão com geleia. Então o silêncio de meio minuto, logo depois falavam de qualquer outra mediocridade, como se estivesse tudo certo.

Cada um seguia para seu trabalho e para suas farras particulares. Voltavam para casa, jantavam restos da semana anterior ou pediam pizzas. Deitavam-se na cama, transavam sem desejo, muitas vezes nem gozavam. Essa era a rotina do casal.

Consideravam-se felizes, pensavam que não poderia ser melhor. Na verdade, não faziam questão de tentar mudar.

Anos se passaram e eles continuavam juntos, no entanto as discussões aumentaram. Em muitas das brigas havia agressão física e ameaças de morte. Ainda assim continuavam juntos.

Era segunda-feira. Ele decidiu não entrar na firma. Resolveu pagar uma prostituta e perder parte da tarde com ela. Por conta disso chegou mais cedo em casa e encontrou sua esposa transando com outro.

O amante conseguiu escapar, mas ela não teve a mesma sorte. Apanhou como nunca, perdeu muitos dentes, perdeu a vontade de viver.

Ele foi denunciado por vizinhos e foi afastado. Ele não sabia, mas sua vítima estava grávida. Ela, por sua vez, não sabia quem seria o pai.

Assim é o romance na Terra. Tão diferente das novelas da televisão, que por serem tão ilusórias tornam-se tão ou mais sujas que a podre realidade.

A novela é um romance às avessas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O COBRADOR

Perguntei ao cobrador do ônibus se ele podia me avisar quando chegasse ao ponto do colégio. A resposta foi não.

Eu era capaz de me virar sozinho, foda-se! Mas achei que o cobrador tinha dado uma de cuzão. Custava informar qual era a porra do ponto que eu devia descer?

Depois observei que ele carregava uma expressão triste, perturbada. Não havia sido pessoal. Ele devia estar passando por um momento difícil. Cheguei a esquecer minha raiva e passei a ter certa pena.

No entanto, eu com meu problema sem saber em que ponto eu deveria saber, ele com seus problemas seja lá quais fossem.

Estávamos quites. Ninguém se importa com o problema do próximo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

TANTA BELEZA

Como ignorar aqueles seios fartos? Como ignorar aqueles corpos gostosos? A vontade era de atacar vorazmente com a boca e com as mãos cheias aqueles peitos e aquelas carnes... mas não podia.

Olhava muitas garotas, algumas abraçava forte para sentir os seios se comprimindo de encontro ao corpo.

Não é questão de ser tarado. Mas, céus, como ignorar tanta beleza?

E todos os seres humanos queriam transar. E todos os olhares carregavam essa vontade.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

UM RAPAZ E UMA SENHORA ATRAVESSAM A RUA

A vida já não estava legal. E como poderia estar? Francamente!

Andava pelas ruas. Não esperou o sinal verde para atravessar ao outro lado, mas como sempre nenhum carro o acertou. Ele não tinha essa sorte.

Do outro lado da rua uma senhora observava o rapaz atravessar e ela pareceu ignorar o sinal vermelho. Quis fazer como ele. Quase foi atropelada! Mas o tal rapaz impediu o incidente, barrando a senhora com o braço e puxando-a de volta para a calçada. Ele, inconformado, disse:

- Minha senhora! Não faça mais isso! A senhora não tem cuidado com a vida?
- Nossa! Obrigada, meu jovem! É que vi você atravessar e pensei que o farol estivesse verde... – responde.
- Ora! Fiz isso porque não ligo para a minha vida. A senhora deveria prestar mais atenção.
- Mas... meu jovem! Não diga tamanha besteira! Por que não liga para a própria vida?
- Sou um inútil. Não vejo um sentido na vida. – desabafa o rapaz.
- Tsc, tsc... você não pode ser inútil. Você salvou minha vida. Você é mais útil do que pode pensar. A vida vai lhe mostrar com o tempo...

A senhora deu um sorriso agradecido e partiu. O rapaz pensou: “talvez ela esteja certa...”, mas logo em seguida um novo pensamento: “por que não deixei ela ser atropelada?”.

Agora o rapaz se questiona se realmente é tão inútil ou se é alguém importante.

A senhora que também não via, até então, um sentido na vida, soube que foi importante na vida do rapaz, pois fez com que ele se questionasse.

Não seria justo se eles fossem atropelados, mesmo que os dois tivessem tido essa intenção naquele momento... será?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CENA DE CALLCENTER ATIVO

- Alô? – voz de senhora.

- Boa tarde! Eu sou o Astrogildo, do Banco Grana. Gostaria de falar com José Pranto. Ele se encontra?

- O que você quer com ele? Eu sou a mãe dele! – voz alterada, demonstrando raiva.

- Olha, senhora... seu filho tem uma dívida conosco. Ele veio na bocada e levou pedra, dona. Crack! Tá devendo uma grana preta pra banca, tá ligada?

- ... – o silêncio transmite toda a angústia de uma mãe.

- Se ele não pagar essa porra ele vai ser apagado, tá entendendo?

- M-meu... meu filho?!

- É, dona! Esse cuzão mesmo! Tá nervosa, minha senhora? Imagina como nóis tâmo nervoso, então. Com droga a menos, sem a porra da grana do crack... o cano tá querendo explodir!

- Meu deus! S-só pode ser brincadeira! – voz chorosa.

- Olha, senhora. Pra te falar a verdade, é brincadeira, sim. Eu realmente sou do Banco Grana, mas o assunto é só com o seu filho. Ele se encontra?

domingo, 12 de setembro de 2010

CORES NEGRAS E BRANCAS

Aquela bela garota negra aguardava seu ônibus no ponto, às 15h30 aproximadamente. Por algum motivo o ônibus demorava um pouco mais a chegar.

Os olhos da garota fitavam a rua, de uma forma vã, enquanto não avistavam o ônibus que não chegava.

Enquanto isso, um rapaz branco andava pelas proximidades daquele ponto. Por algum motivo sentia que era mais tarde, mas era impressão.

Os olhos do rapaz fitavam as pessoas, sentindo algo diferente nas horas, mas o que poderia ser?

Foi quando, naquele ponto de ônibus, os olhos da garota negra se encontraram com os olhos do rapaz branco.

Os olhares se misturaram num belo contraste, querendo mais do preto no branco, do branco no preto. E os olhares se entenderam numa entrega distante de um para o outro.

A garota negra continuou esperando seu ônibus. O rapaz branco continuou seus passos.

Nos dias seguintes não mais estavam os olhos naquele ponto, prontos para o belo contraste da entrega. Nunca mais se viram, nunca mais ocuparam o mesmo espaço, nunca mais ocuparam a mesma visão.

A cidade continua agitada.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

GENTILEZA TEM LIMITE

A menininha estava chorando, sentada na praça.
- Buaaá! Buaaá! Snif...

Mas um mocinho se aproximou da menininha. Perguntou a ela:
- Por que chora, menininha?
- Porque ninguém me ama! – respondeu.
- Como você sabe? Quem garante? – retrucou o mocinho.
- Bem... porque nunca ninguém me disse, oras!
- Eu nunca disse te amar, no entanto eu te amo – disse o mocinho com a voz mansa e serena.

A menininha sorriu, enxugou as lágrimas com as mãos e perguntou:
- Jura?
- Claro que não!
A menininha voltou a chorar. O mocinho a abraçou.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ROBÔ-CLONE

Ninguém desconfiou de nada. Nem funcionários, nem supervisores, nem seguranças... era um robô perfeito, exatamente igual Catarina. Ela não estava muito afim de trabalhar, então providenciou que o robô-clone ficasse em seu lugar.

Manfredo estava trabalhando, sentado ao lado de Catarina. Aliás, sentado ao lado do robô-clone. E conversava com ela normalmente.

Qualquer um que passasse naquele corredor nunca desconfiaria que aquela não era realmente Catarina.

O robô-clone fazia tudo o que um ser humano é capaz de fazer (ou quase tudo). Era capaz de mexer no computador, atender telefone, conversar... foi programado da forma mais impressionante!

Supervisores estavam no corredor. Manfredo pergunta à Catarina robótica:
- Conseguiu finalizar aquele serviço?
- Quase. Falta pouco – respondeu o robô.

É... os supervisores estavam crentes que estava tudo certo por lá e deixaram o corredor, sem imaginar que lá havia um robô que não conseguia finalizar os serviços de Catarina. De repente o celular de Manfredo toca. Era Catarina:

- Alô, Manfredo? Alguém desconfia de algo?
- Não, Catarina! Tudo na mais perfeita ordem.
- Se descobrirem sobre o robô pode acontecer uma merda! – alerta Catarina.
- Nunca vão descobrir... descobrir... descobrir... descobrir... – o robô-clone de Manfredo teve uma pane. Manfredo estava na praia.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

UM IRÔNICO SUICÍDIO

Levava tudo a sério. Ele não conseguia relaxar um minuto sequer. Era assim desde que acordava até a hora em que se deitava.

Na verdade, tudo o que ele queria era se desligar um pouco do mundo, sem se preocupar com nada, sumir. Desaparecer para todos sem dar satisfação, sem aborrecimentos, sem pensar nos outros.

Nunca conseguiu o que queria, já que em sua cabeça perdurava a preocupação dos deveres que ele tinha que cumprir.

Morava em um apartamento no 19º andar com sua família. Nessa ocasião ele estava sozinho e suas malditas preocupações ainda estavam lá. Eram suas companhias na solidão.

Mas de repente surgiu uma ideia de como se livrar de toda aquela merda. Ele estava observando a rua pela janela quando teve a inspiração. Decidiu pular! Sim, era só cometer suicídio.

Ele pulou. E durante a queda pensou nas preocupações que estavam indo embora junto com sua vida.

Finalmente não se preocuparia mais com nada e nem com ninguém.

Quando estava próximo do chão, a poucos segundos da morte, atormentado ele lembrou: “puta que pariu! Esqueci de escrever um bilhete”.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O HOMEM-CAIXA-DE-SAPATOS

Se ele continuasse com aquela dor não suportaria mais viver. Era uma dor intensa, bem no coração. Pensou se seria possível respirar sem um coração. Claro, oras! Para isso ele tinha pulmões.

Ele pegou uma caixa vazia de sapatos, foi até a cozinha, escolheu uma faca bem afiada, começou a cortar o peito. Tirou seu coração e guardou na caixa. Então ele se costurou e tomou um belo banho para tirar o sangue.

Já se sentia melhor, sem aquela dor chata. Resolveu sair às ruas e curtir sua nova condição. Entrou em uma lanchonete bem movimentada, cheia de lindas garotas. Várias delas se interessaram por ele quando adentrou o recinto. Claro que se aproximaram. Mas curiosamente isso não trouxe nenhum sentimento de felicidade para ele, aliás, não trouxe sentimento algum. Resolveu sair de lá.

Seu celular tocou. Péssimas notícias. Algo horrível acabava de acontecer para ele. Mas ele não conseguiu chorar, por mais que quisesse.

Voltou para casa. Resolveu ler um livro. Sonetos de Camões. Pela primeira vez não sentiu emoção ao ler tais versos.

Foi deitar. E sentia-se péssimo, mesmo sem dores, pois se sentia vazio demais. Então se levantou para pegar a caixa de sapatos. Abriu o peito novamente e devolveu seu coração ao corpo. Nessa hora as lágrimas caíram.

Não havia como se livrar de más sensações. Com coração era triste, sem coração era infame. Era exatamente como a própria caixa de sapatos: com tanto terror quando cheia, tão inútil quando vazia.

sábado, 4 de setembro de 2010

IMAGINAÇÃO FÉRTIL

A garota se trancou no quarto, apesar do apartamento estar vazio. Isso fazia com que entrasse no clima mais facilmente. Puxou a gaveta, tirou algumas peças de roupa de dentro, jogando-as no chão. No fundo da gaveta estavam suas revistas pornográficas.

Primeiro deitou na cama, em segundo lugar abaixou as calças, em terceiro lugar abriu a revista, em quarto abriu as pernas, em quinto, bem... estava se masturbando.

Fazia tempo que não transava e a masturbação já havia virado hábito. Enquanto ela acariciava o clitóris pensava na chatice que era aquilo, apesar de render certo prazer. Mas o pior é que as revistas não gemiam. Era como foder com uma pedra.

Como estava sem graça aquilo! Mais uma vez aquele sexo solitário e silencioso. Então fechou os olhos e jogou sua revista no canto do quarto. Imaginou um homem suspirando em seu ouvido, enfiando com vontade. Imaginou um homem sedento por sexo, gritando como se fosse o Tarzan explorando a floresta. Aquilo começava a ficar mais interessante para ela. Então ela começou a suspirar, gemer, gritar! Parecia que estava sendo introduzida por um cavalo! Gritava alto, sem parar! Então gozou como há tempos não gozava.

No apartamento ao lado um garoto se masturbava com sua revista pornô. Estava achando tudo uma chatice, até que ouviu gemidos e gritos de algum lugar. Foi muito bom. E até hoje ele espera que sua revista grite novamente em uma de suas punhetas.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O BAR FEÉRICO

Ele parou no bar. Sentou-se a uma mesa no fundo do estabelecimento e pediu uma bebida. Observou, quase que distraído, o ambiente. Notava a falta de higiene do bar e, de lá do fundo, olhava a rua através da porta de saída.

Sua bebida já foi posta no copo e o copo já foi direcionado por suas mãos até a boca. A bebida é doce e seu sabor o faz sorrir.

Parecia feliz, pensando em nada, degustando o drink e sorrindo para coisa alguma.

O Relógio, em contraponto do corriqueiro, corria seus ponteiros rapidamente. Lá dentro do bar o clima era agradável. Copo vazio. Mais uma rodada.

O bar estava cheio. Jovens e adultos se divertiam como crianças, todos quase sem responsabilidade, vivendo o momento sem pensar demais. Enfim, um ambiente propício para um bar.

Ele continuava bebendo e sorrindo. Parecia feliz, como se estivesse comemorando intimamente consigo, brindando sozinho alegrias.

Ele sabia que cada dia é único e cada segundo deve ser aproveitado intensamente. Por isso parou neste bar. Parecia feliz e satisfeito.

Outra dose. O tempo é arteiro. Como passa depressa quando não se quer! Suas moedas estavam acabando. Só lhe restava o dinheiro para a condução.

Fechou a conta, deu um último sorriso antes de se ausentar do bar. Parecia feliz com tudo. Só parecia. Fora do bar não encontrava fadas.

PEQUENA ANÁLISE SOBRE UM VELHO GORDO

Estava o velho em pé, frente ao balcão da padaria, degustando seus salgados e outras guloseimas. Sua barba cobria-lhe o rosto e sua barriga se esparramava pelo mesmo balcão.

Quando cheguei já estava lá. Sua aparência me lembrava o Jô Soares, porém com um aspecto mais deprimente.

Muitos e muitos minutos se passaram e o velho continuava estacionando sua pança sobre o balcão e comendo seus salgados.

Observava o velho. Sua expressão era vazia. Ele estava sozinho. Não sorria, não aparentava vida. Era um velho cheio de tristezas e desgostos. Que horrível era olhas sua pança tristonha (que devia estar cheia de migalhas babadas, enquanto outras migalhas deviam ter se escondido em sua barba).

Senti uma aflição ao perceber, naqueles minutos, o quanto aquele velho não tinha expectativas. Enquanto degustava seus salgados de tristeza, eu estava rodeado de companhias e podia voltar sorrindo para a minha casa. O que fez o velho gordo?

DIABO AO ACASO, HUMANO DO INFERNO

D= diabo
H= humano


H – Ei, diabo, o que queres de mim?
D – Dar-te amor, é tudo que ofereço.
H – Teu amor não é bem vindo, portanto deixe-me só.
D – Meu amor é o mais profundo, mais quente impossível.
H – Teu amor arde-me a alma, eis que não quero.
D – Ele torna tua alma sensível, portanto lhe é útil.
H – A alma sensível é exposta a tristezas.
D – Quem não vive a tristeza não conhece a felicidade.
H – Quem me garante que teu amor é feliz?
D – Mas tu estás certo de que se garante sem amor?
H – Na verdade não estou certo de nada.
D – E em nada encontrarás qualquer verdade.
H – É. Sendo assim, essa afirmação pode ser falsa e eu não devo acreditar em teu amor.
D – Não digo que deves, mas digo-lhe que podes.
H – Não digo que quero, mas digo-lhe que penso...
D – E por isso estou aqui!
H – Eu preferia que não estivesses...
D – Então por que me chamas?
H – Porque o inferno nos cerca. E não sei destruí-lo.
D – A culpa é minha? Quem me criou? Quem me fez? Tua mente!
H – Posso lhe descartar?
D – Quem poderia dizer? Sou um acaso...

OBSCENO PERDIDO

Se você for uma bela garota e um dia achar esses escritos, então é tudo para você: eu te quero, bela garota. Quero a ti como um louco, sem virtudes nem descaso, sem amores nem relaxos, mas eu quero muito a ti. Quero rasgar tuas roupas, tua calma e tua vagina e depois reconfortar-te no conforto de meu gozo, nos meus beijos desesperados, quero ouvir teus gemidos, os teus gritos e meu nome. É por ti que escrevo tudo, oh, bela garota, sedutora criatura, é tudo por ti. Se achares esse texto, comece a se despir, venha seminua até minha cama, esfregue os seios em meu rosto enquanto durmo e me acorde com seus bicos arrepiados. Faça-me mais vivo!

Mas se quem encontrar estes escritos for uma garota de traços cretinos, esqueça, garota! Não vou te querer. Escreva como eu, e se alguém se interessar entrará em seu quarto.

PÁSSARO SEM ALMA

Ah, sabiá... se pudesses falar, o que dirias a mim a respeito deste Sol, a respeito deste dia? Como é voar e pousar sobre a sombra e como é parar sem pensar em deveres?

Ah, sabiá... tu tens problemas ou não? Pensas na vida ou apenas a vive? Gostas de voar e seres livre (ou não és)?

Ah, sabiá... se pudesses falar, o que dirias a mim? Aposto como falarias para me calar e mandarias eu tomar no cu.

Ah, sabiá... vá se foder, seu passarinho do caralho! Não custa nada dividir seus pensamentos, assim como eu faço a escrever coisas ridículas.