"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

HISTORINHA ABSURDA

Andava pelas ruas. Tropeçou em uma cabeça. Isso mesmo! Uma cabeça decapitada! Levantou e continuou andando. Nem olhou para baixo. A cabeça rolou aos pés de outros. Os outros a chutavam sem olhar o que chutavam. A cabeça rolou pelo centro da cidade.

É a pura arte do futebol! É a magia do esporte contemporâneo!

Os urubus que sobrevoavam a cidade avistaram a cabeça de lá de cima e não se intimidaram com as centenas de pessoas que circulavam pelas ruas. Pousaram e devoraram os restos mortais. Que refeição maravilhosa!

As senhoras passavam com pressa de ir à feira, as crianças passavam com pressa de ver os amigos, o homem passava ouvindo seu fone de ouvido. E no mp3 o som que rolava era de João Bosco, “De Frente Pro Crime”.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

FÁBULA CONTEMPORÂNEA

E o lobo correu atrás do porquinho desfavorecido. O porquinho correu, correu, correu... Correu até chegar à ocupação na qual morava. Entrou e fechou a porta. Então o lobo gritou:

- Abra essa porta, porquinho!
- Não abro, não!

O lobo, injuriado, recorreu à Justiça e conseguiu uma ordem de despejo. O porquinho teve que sair da ocupação apanhando da polícia canina. Passado esse apuro, para que o lobo não o comesse, o porquinho desfavorecido buscou abrigo no barraco do porquinho suburbano.

Mas o lobo não desiste de suas presas. Encontrou o barraco, ficou à porta e percebeu que os dois porquinhos estavam lá dentro. Então o lobo gritou:

- Abram essa porta, porquinhos!
- Não abrimos, não!

Na hora em que o lobo pensou em chutar o pau do barraco, a polícia canina invadiu o morro em uma ação pacificadora, expulsando todo mundo da favela. Nessa confusão toda, os porquinhos tiveram que se mudar para a casa do porquinho da casa de tijolos. E o lobo já tinha criado uma obsessão pelos porquinhos. Foi atrás!

Dentro da casa de tijolos estavam o porquinho desfavorecido, o porquinho suburbano e o porquinho dono da casa. O lobo já estava do lado de fora, à espreita, esperando que eles saíssem do lar para que pudesse fazer seu banquete. Cansado de esperar, resolveu gritar:

- Abram essa porta, porquinhos! Eu estou aqui!
- Não! Nós não abrimos, não!

O lobo pensou em arrombar a porta, mas analisou bem e resolveu ir embora.

No dia seguinte, enquanto os porquinhos estavam dentro da casa de tijolos, a terra deslizou! Era uma área de risco. A avalanche de lama afundou a casa e os porquinhos.

Moral da história: Quem muito quer, se vira! Quem nada tem, se fode!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

AQUELA VELHA HISTÓRIA...

Não! Eu não quero me sentir satisfeito! E por que querer? É aquela velha história do “limitar-se”.

O dia em que me sentir satisfeito é porque limitei meus anseios nas coisas que vejo, que sinto, que tenho. Aí morrem desejos, morre a criatividade... morre a poesia! Ah, a poesia não pode morrer!

Não que eu não tenha apreço por nada. Tenho até demais. Por tudo! E por isso prefiro apreciar cada coisa, em todo tempo, desejando sempre o impossível. Desejar o possível seria aquela velha história do “limitar-se”.

Veja bem: se quero algo corro atrás. Se algo na busca me incomoda, paro. Paro porque não estou buscando incômodo. Isso não quer dizer que eu já não queira. Deixar de querer por conta de algum contratempo entraria naquela velha história do “limitar-se”.

E por isso meus anseios me bastam! Eu vivo de anseios impossíveis, corro e paro, paro e corro, sou instável. Isso me motiva! Isso me faz satisfeito!

Eu disse satisfeito? Merda!