"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

sábado, 18 de novembro de 2017

O ENSAIO DAS DERROTAS

O encontro entre a beleza que minha mente cria e meus anseios que não a alcançam, em um primeiro momento, deixa-me frustrado. Eu lamento os desejos que me brotam com uma fúria estúpida e ingênua. Eu sei o quanto meus anseios são incapazes de atingir o que quero. Via de regra, o que quero é excessivamente inalcançável.

Em um segundo momento, retomo minha história. Repenso sobre o enorme acervo de derrotas que possuo. As mais longínquas que a mente consegue recordar pareciam mais graves no momento em que se procederam. O peso das derrotas subsequentes tornou-as mesquinhas.  O montante de derrotas sequer me pesa as toneladas que possui! Tornei-me mais preparado, mais treinado, mais insensível.

Recolho-me, então, à insignificância de minha existência. Recolho-me às minhas carências afetivas – não, não –, digo, às minhas carências emocionais. Recolho-me aos fatos, às amarguras tão minhas, à vida como ela me é. 

Eu não me aceito. Aceito que não posso me aceitar. Eu nunca pude. E aceito que as coisas andam bem. Eu estou caminhando. Eu estou sentindo o vento. Eu estou comigo, como ninguém jamais poderia. 

Reflito sobre as consequências de se alcançar o que se quer. Nada é infinito. Será que perder é pior do que nunca ter? Sinto-me privilegiado pelas rasteiras da vida enquanto eu ainda estava rastejando em desejos tão pueris.  Eu rio da cara da vida, que em golpes tão baixos não conseguiu ter mais baixeza que eu.

Eu estou fodendo com minha má sorte. Hoje o azar não conseguiu me atingir. Eu estou fodendo com minha má sorte e gozando neste azar incapaz! 

Não há cigarros para quem não fuma. Eu trago minha desgraça e sopro ao vento a poesia.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO SOBRE IMPORTÂNCIAS

Eu pensei que estivesse finalmente superando meus apegos. Eu pensei que, dessa vez, eu tivesse dado um passo largo, muito largo. Eu pensei que eu havia compreendido o fim dos momentos idealizados, das coisas jamais vividas que me acompanham em pensamentos...

O que é “importância”? Algo só pode ser importante quando, de fato, está em contato com nossa vida, moldando nossa forma de lidar. De acordo com o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa:

Importante – im·por·tan·te – adj m+f
1 Que tem importância.
2 Que não se pode esquecer ou deixar de atender.
3 Digno de apreço, de estima, de consideração.
4 Que tem grande credibilidade; que exerce notável influência.
5 Que tem muito valor ou preço notável.
6 Que resulta em proveito ou interesse; que se pode prestar a determinado fim; proficiente, útil, vantajoso.

Em meio a necessidade de me atualizar em meu próprio tempo, observando que não sou mais quem eu fui a anos atrás, percebendo o grande apego em coisas que ficaram no passado, questionei-me sobre coisas que são importantes para mim.

Das definições do nosso amigo dicionário, sempre me apeguei às numeradas de 1 a 5. De fato, coisas que aconteceram na minha vida são consideradas importantes por eu não conseguir esquecer, por serem dignas de grande estima, por toda a influência que exercem na minha forma de lidar com as coisas, por todo o valor indescritível que carregam...

Considerei uma das coisas mais importantes da minha vida algo que por longos anos influenciou e moldou minha forma de lidar com tudo ao meu redor. E isso porque, por longos momentos, isso esteve diretamente ligado às minhas dúvidas, aos meus anseios, ao único sonho que tive na vida, à sensação de troca, às expectativas mais emocionantes que já pude sentir... Mas os tempos mudaram e demorei para entender que a vida segue por caminhos nem sempre aguardados.

Importante – im·por·tan·te – adj m+f
6 Que resulta em proveito ou interesse; que se pode prestar a determinado fim; proficiente, útil, vantajoso.

E então me dei conta de que aquilo que considero uma das coisas mais importantes da minha vida já não resulta em proveito, já não dialoga com as necessidades que carrego hoje em dia, já não é vantajosa para mim que, em meio a tantas mudanças, preciso respirar um ar totalmente renovado, que encha de proveito e utilidade prática e constante. Novos ares!

Essa descoberta doeu. Dói admitir que aquilo que consideramos importante não dialoga com as nossas necessidades atuais. Dói, porque o apego ainda existe. E não há absolutamente nada que se possa fazer a respeito.

No entanto, de certa forma, quando me dei conta disso, foi libertador. Essa era a luz no fim do túnel, o outro lado da ponte. Admitindo que essa importância não dialoga com minhas necessidades atuais e que, portanto, não resulta em proveito ou vantagem, ficaria mais fácil de seguir e considerar o desapego.

Eu considerei o desapego. E que fique claro: o desapego não exclui o amor. O amor é algo que vai além, que não enfraquece, que apenas é reafirmado a cada dificuldade, barreira ou descoberta. O amor é a força mais potente que existe e nem mesmo essas descobertas são capazes de abalar, ferir ou marcar o amor. E eu não mudaria absolutamente NADA do amor que sinto. E intacto ele permanece.

Mas amor também é libertar e saber se libertar. É soprar pétalas ao vento e saber que as pétalas ainda serão pétalas quando alcançarem outros lugares, embora não estejam mais visíveis aos olhos, embora não estejam mais presentes ao toque...

A pétala que amo me perfumou a mão. E isso foi importante. A pétala já não pode fazer nada por mim. Sua importância se conjuga no passado. A pétala que amo foi levada pelo vento. E eu a amo.

Ah, esse é o raciocínio do desapego! Eu podia ver o outro lado! Eu juro que podia, mesmo que através de grossa neblina...

Mas hoje eu sonhei com o teu abraço e acordei com perfume de pétala.