Conheceram-se numa tarde de nuvens negras. Estavam em um boteco fedorento no centro da cidade junto de bêbados depravados, alcoólicos depressivos e putas melancólicas.
Ela – sentada ao balcão, com sua microsaia, expondo varizes e celulites – bebia a segunda dose de tequila, depois de vários copos de cerveja barata.
Ele – sentado a uma mesa suja e engordurada, com os primeiros botões de sua camisa abertos – segurava um copo de uísque, bebendo pequenos goles, observando a moça sentada ao balcão.
Os olhares se cruzaram. Ele coçou o saco, ela arrotou tequila.
Ele saiu de sua mesa e foi até o balcão. Perguntou a ela quanto era o programa. Mas ela não fazia programa, oras!
Conversaram. E toda conversa de bêbado rende. Ficaram horas falando besteira. Inevitável, saíram de lá e pagaram um motel qualquer.
Inexplicavelmente iniciaram um relacionamento e foram morar juntos. Claro que se traíam, afinal, não são exemplos de virtude. Mas fingiam não saber do fato.
Acordavam e tomavam juntos o café da manhã: pão velho, cerveja e geleia vencida. A televisão ficava ligada em qualquer canal desinteressante. Falavam sobre coisas fúteis, discutiam, trocavam ofensas e voltavam a mastigar o pão com geleia. Então o silêncio de meio minuto, logo depois falavam de qualquer outra mediocridade, como se estivesse tudo certo.
Cada um seguia para seu trabalho e para suas farras particulares. Voltavam para casa, jantavam restos da semana anterior ou pediam pizzas. Deitavam-se na cama, transavam sem desejo, muitas vezes nem gozavam. Essa era a rotina do casal.
Consideravam-se felizes, pensavam que não poderia ser melhor. Na verdade, não faziam questão de tentar mudar.
Anos se passaram e eles continuavam juntos, no entanto as discussões aumentaram. Em muitas das brigas havia agressão física e ameaças de morte. Ainda assim continuavam juntos.
Era segunda-feira. Ele decidiu não entrar na firma. Resolveu pagar uma prostituta e perder parte da tarde com ela. Por conta disso chegou mais cedo em casa e encontrou sua esposa transando com outro.
O amante conseguiu escapar, mas ela não teve a mesma sorte. Apanhou como nunca, perdeu muitos dentes, perdeu a vontade de viver.
Ele foi denunciado por vizinhos e foi afastado. Ele não sabia, mas sua vítima estava grávida. Ela, por sua vez, não sabia quem seria o pai.
Assim é o romance na Terra. Tão diferente das novelas da televisão, que por serem tão ilusórias tornam-se tão ou mais sujas que a podre realidade.
A novela é um romance às avessas.
Por Mao Punk: NÃO ACONSELHADO A PURITANOS! Aqui estão meus textos que expõem a fragilidade e indecência humanas, onde o real se mistura com o fictício. Muitos dos textos aqui presentes podem ofender por expor o lado mais indesejável dos seres humanos. Palavrões, conotações sexuais e violência são frequentes. Não leia se isso não te agrada. Boa leitura.
"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.
Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.
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