"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O HOMEM-CAIXA-DE-SAPATOS

Se ele continuasse com aquela dor não suportaria mais viver. Era uma dor intensa, bem no coração. Pensou se seria possível respirar sem um coração. Claro, oras! Para isso ele tinha pulmões.

Ele pegou uma caixa vazia de sapatos, foi até a cozinha, escolheu uma faca bem afiada, começou a cortar o peito. Tirou seu coração e guardou na caixa. Então ele se costurou e tomou um belo banho para tirar o sangue.

Já se sentia melhor, sem aquela dor chata. Resolveu sair às ruas e curtir sua nova condição. Entrou em uma lanchonete bem movimentada, cheia de lindas garotas. Várias delas se interessaram por ele quando adentrou o recinto. Claro que se aproximaram. Mas curiosamente isso não trouxe nenhum sentimento de felicidade para ele, aliás, não trouxe sentimento algum. Resolveu sair de lá.

Seu celular tocou. Péssimas notícias. Algo horrível acabava de acontecer para ele. Mas ele não conseguiu chorar, por mais que quisesse.

Voltou para casa. Resolveu ler um livro. Sonetos de Camões. Pela primeira vez não sentiu emoção ao ler tais versos.

Foi deitar. E sentia-se péssimo, mesmo sem dores, pois se sentia vazio demais. Então se levantou para pegar a caixa de sapatos. Abriu o peito novamente e devolveu seu coração ao corpo. Nessa hora as lágrimas caíram.

Não havia como se livrar de más sensações. Com coração era triste, sem coração era infame. Era exatamente como a própria caixa de sapatos: com tanto terror quando cheia, tão inútil quando vazia.

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