"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

domingo, 6 de novembro de 2011

CUMPLICIDADE II

É um reflexo.

Não encontro em mim o motivo da busca. Na realidade não me encontro em mim. Sendo assim meus olhos flutuam, desanimados, por este vão mundo tão cheio de coisas. Há de existir qualquer surpresa que possa ser captada por estes olhos cansados. Avisto!

Avisto alguma surpresa. Sua cor é castanha. É um castanho sério. Um castanho que não se encontra em si e que flutua.

Busco neste castanho – sério, mas indiscutivelmente belo – o motivo do desânimo contrastante que envolve aqueles olhos. Busco. Será que, na realidade, o que procuro ali são minhas razões de desânimo como se tudo fosse a tradução perfeita do meu momento?

Mas sinto que estes olhos também buscam nos meus esta tradução. É um apelo, uma súplica! O que acontece em mim? Em nós?

É um reflexo. Serei eu espelho coincidente ou serei contágio? Será que estes olhos que me contagiaram?

Somos cúmplices silenciosos um do outro. Somos o esquecimento de que até nessas dores há beleza irrefutável.

sábado, 29 de outubro de 2011

CUMPLICIDADE

Fui cúmplice. Daquele pranto fui cúmplice.

Não fui cúmplice da causa da dor. Aliás, desconheço a causa da dor, embora eu desconfie que em cada dor haja o mesmo vazio.

Fui cúmplice porque por dias segui aqueles olhos castanhos como quem busca o oásis no deserto. Desculpem-me a metáfora clichê e desajeitada, mas quem tem sede da vida não poderia apresentar outra ideia.

Segui aqueles olhos. E eles, por força de minha imaginação ou por força dos fatos, também seguiram os meus. Foi assim que me tornei parte do crime.

E não fui parte do crime de forma dolosa. Na realidade, nem culposa. Fui vítima, tão vítima quanto aqueles olhos castanhos chorosos.

Fui cúmplice de um momento doloroso. Fui parte daquela dor porque a dor daqueles olhos se espelhou nos meus. Ou será que meus olhos se espelharam naquela dor?

De qualquer forma o sentimento de impotência tomou toda a minha manhã e começo da tarde.

Fui cúmplice covarde. Covarde porque não derrubei meu pranto naquele momento. Covarde porque não disse “passará”. Meus olhos bem tentaram dizer, mas eles eram tão cúmplices, tão tristes!

Fui cúmplice. Daquele pranto fui cúmplice. E minha cumplicidade se fará em silêncio. Se fará em solidariedade ao silêncio daquele pranto gritante, gritando em silêncio de uma vontade de ser cúmplice de algum sorriso.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

CONFISSÃO GOZADA

Ele gozou na minha cara. O filho da puta gozou na minha cara! Acha que sou que tipo de mulher? Uma puta? Nem puta é tão humilhada! Acha que só porque chupei seu pau ele tem direito de fazer isso comigo?

Entendo que todos têm o direito ao orgasmo, mas tinha que ser desse jeito? Para ele está tudo bem, afinal eu não pinto a cara dele de branco quando ele me chupa. Mas achar que gozar na minha cara é compensar o trabalho feito, isso é inadmissível!

Confesso que não foi ruim. Você, que também é mulher, entende que a coisa não é lá muito agradável realmente, mas também não é algo totalmente desprezível. Claro que gosto é gosto, mas na hora do sexo certas coisas são superáveis... Mas nem por isso deixarei as coisas bagunçadas assim! Com que direito ele fez isso? Tirou minha honra, me tratou como uma qualquer, tentou me diminuir!

Logo ele que sempre me tratou tão bem, com tanto respeito... Um exemplo de homem... Não! O que estou dizendo?! Ele quis me inferiorizar!

Eu poderia ter parado. Eu deveria ter imaginado o que estava por vir. Por que mantive a arma em minhas mãos? Por que vivi o calor dessa emoção tão livremente? Por que dei asas à minha libido desse jeito?

Oh! Estou arruinada! O que dirão de mim se souberem? Não vão mais me aceitar como mulher, estou fadada ao desrespeito! Todos vão me tratar como vagabunda!

É tão triste ter a minha sexualidade fragilizada dessa forma! Que todos me perdoem!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

QUASE

Carolina! Eu decidi quase te adorar em silêncio. Falo de um quase silêncio, nunca de um quase adorar. Você talvez saiba que minha adoração é sempre inteira. De qualquer forma, decidi quase conter o que penso.

Decidi, Carolina, quase fingir esquecer, quase enganar minha mente, quase não me sufocar...

Às vezes penso estar contigo e quase acredito. Eu quase sempre voo. E quando não voo, quase sem querer me vejo repousando em você. E quase sempre estou sempre perdido, seja em um quase céu ou quase em teus lábios ("quase" me soa tão distante).

Eu decidi, Carolina, quase te adorar em silêncio. Este quase distante é o que ainda me aproxima de ti...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

COMPRAS, SEXO E DESPERDÍCIO

Ela não era exatamente a mulher dos meus sonhos. Aliás, em sonho nenhum apareceria algo tão inusitado!

Quando transamos, algum asco deveria ter me acometido, mas talvez eu tenha transcendido o materialismo sexual e tenha me entregado simplesmente ao prazer daquela estranha companhia e seu quase morto apetite de foder.

Tudo começou em uma tarde de sol – desculpe se parece clichê dizer uma coisa dessas, dia de sol... Acredito que seja até desnecessário dizer sobre o tempo, até porque, em dias mais frios e chuvosos, pessoas de idade mais avançada preferem o calor da cama que a temperatura das ruas. Era o caso dela.

Ela saia do mercado, cheia de sacolas nas mãos, quase se rastejando junto com as compras. Era velha. Sei que dizendo assim a imagem que lhe vem à cabeça é de uma múmia, mas não. Era velha e até mesmo conservada, o que não significa que as marcas do tempo não a tenham atingido.

Ao ver aquela cena esdrúxula, prontamente me ofereci para ajudar a carregar todas aquelas compras – bem peculiares ao gosto de pessoas velhas, por sinal –, biscoitos de banana e canela, frutas, sopas instantâneas, até mesmo balas de coco entre outras coisas menos interessantes.

Nunca tinha a visto antes, mas para a minha surpresa ela morava perto de mim. Sim, eu levei as compras dela até sua casa. O que eu fazia na rua aquele horário? Não sei dizer. Apenas caminhava por meu bairro sem um rumo certo. E talvez a iniciativa de ajudar aquela senhora fosse simplesmente falta do que fazer, pretexto para uma distração qualquer.

Durante aquela curta caminhada de quatro quadras conversei com ela. E ela parecia tão dona de si, tão vivida, tão experiente! Todos os excessos cabíveis aos mais jovens ela já havia cometido e isso a tornava mais sincera.

Eu, em minha pouca idade, talvez por observar o mundo com olhos raros, já estava um tanto enjoado de garotas que agiam como se tudo fosse apenas uma brincadeira, um passatempo, uma paixão ignorável, algo relacionado a idade adolescente. Igualmente me incomodavam as mulheres já feitas que agiam como se soubessem de tudo, dessas que generalizam todos com base em um desprezo imposto. É verdadeiro dizer também que eu odeio todos os homens que não entendem a sensibilidade da vida. Essa velha, que eu acabara de ajudar, transmitia justamente o que nunca encontrei em outras pessoas, uma virtude excepcional, um caráter inabalável.

Chegando à sua porta ela me convidou para entrar. Senti malícia em seu jeito de falar, com aquela voz um pouco falha. Aceitei o convite. Talvez ela procurasse alguém que não se importasse com sua aparência, algo que certamente não teve em sua juventude. Da mesma forma, eu procurava algo que não fosse apenas estético e mundano.

Ela me levou para o quarto. Tirou minha roupa e também se despiu. Não era tão enrugada quanto poderia ser, mas seus seios já eram um tanto caídos e suas coxas eram ásperas. Poderia eu cobrar alguma beleza? Meu saco, naturalmente enrugado, também não era nada belo, mas ela encarou e muito bem!

Éramos Eros – ser inconsequente – e Medusa – após sua transa frustrada com Poseidon – na mesma cama, em uma inexplicável ação mitológica.

Durou pouco: o tempo dela reclamar de dor na coluna e eu perceber que as coisas haviam fugido do meu controle.

Vesti-me e me preparei para ir embora. Ao sair, ganhei uma bala de coco de brinde.

Nunca mais a vi pelo bairro. Soube tempos depois que naquele mesmo dia ela havia falecido em sua cama com um sorriso nos lábios, como se esperasse um momento de felicidade para deixar a vida.

Eu continuo vivo. Fazer compras me lembra o quanto as pessoas desperdiçam a vida.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CARTÓRIO EM CHAMAS

Bem... a princípio preciso dizer que meu nome na escola nunca foi Carlos ou Paulo ou Vinícius ou Fernando. Não preciso dizer que meu nome nunca foi nenhum desses, obviamente. Tenho um nome, sim. Mas até hoje nunca foi notório. Eu poderia pronunciá-lo aqui, neste momento, para tentar fazer com que ele (ou eu) possa ser mais visível. Mas acho que nem sequer sou meu nome.

Ah, Carlos sim foi e é seu nome! Assim como Paulo, Vinícius e Fernando! Ou não. Talvez os nomes deles tenham sido eles, não o contrário.

O fato é que eu não sou meu nome e nem acho que ele seja eu. E sei que a cada dia que construo o meu nome parece que faltam tijolos. Não, não! Não me refiro a sobrenomes ou nomes de família. Esses eu os tenho, tanto quanto o meu nome que teimo construir dia após dia.

Eu sei que parece um tanto contraditório. Por que construir o que já tenho? Talvez não seja construir. É mais algo como “edificar” ou colocar em pé.

Não! Não digo que estou desmoronando, caindo em escombros, claro que não! Mas o caminho até o céu é muito longo. E não estou falando de nenhum paraíso. Não acredito em nada disso. Falo de algo muito mais substancial e transcendente. Falo de alçar voo!

Talvez eu tenha errado em minhas colocações. Voo não se edifica, certo? De qualquer forma, é algo a se conquistar.

Para finalizar preciso dizer que meu nome nunca foi e nunca será Carlos, Paulo, Vinícius ou Fernando. Preciso dizer também que nome é algo que não tem a menor importância, na realidade. Mas se me chamarem de “Asas” serei feliz.

terça-feira, 29 de março de 2011

A MESMICE

A mesmice? Ah, claro! Ela não é algo extrínseco. Ela não faz parte das coisas ao seu redor. Não é uma consequência do que não acontece no ambiente exterior. Ela é justamente a falta de organização das ideias pessoais, ideias internas. Organizar é ação! Quem não organiza os pensamentos passa por um tumulto que impede de respirar novos ares.

Mas se existe um tumulto, como posso dizer que há mesmice? Simples: esse tumulto sempre acontece por conta de um único fator. Esse fator é invariável, é constante, é monótono. O fator em questão é a própria confusão mental que se faz a partir da falta de organização de pensamentos.

Não há mesmice que não venha de dentro de nós. Não há mesmice que não possa ser mudada com nossas próprias atitudes. Pensar no que somos, no que fazemos, organizar nossos atos e nossos desejos, isso certamente contribui para a quebra da mesmice.

Impulsos? Por que não dizer que são exposições involuntárias de organizações pessoais? Mesmo que sejam organizações não revisadas, mesmo que pareçam fora da lógica racional. O impulso, se analisarmos, pode ser uma lógica racional inconsciente ou, poeticamente falando, a lógica da sensibilidade extravasada após uma organização sentimental, algo que quebrou as barreiras da mesmice.

Eu, particularmente, não acredito tanto assim em racionalidade quando falamos de sentimentos. Prefiro a poesia. Prefiro a visão romântica. Ela conforta um tanto mais.

E se por acaso eu aparentar confusão nessas linhas, talvez seja resquício de alguma mesmice. Mas eu tenho a poesia para me ajudar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

INDIFERENÇA TÂNTRICA

Minha indiferença é tão atenciosa!

Quando decido mandar tudo para a puta que pariu, eu o faço com gosto! E não mando para qualquer puta que pariu, não! Só mando para as putas mais arrombadas.

Quando eu quero que se foda, eu quero que seja aquela foda inesquecível! Não falo de uma rapidinha, obviamente. Falo de algo mais tântrico. É um "foda-se" prolongado, sem gozo.

Sou atencioso até demais! Tanto que me preocupo com a puta e com a foda, com o parido e com o fodido. E minha indiferença acaba sendo uma máscara ou proteção.

Ah! Eu quero que se foda! Tudo isso que vá pra puta que pariu!

terça-feira, 8 de março de 2011

AQUILO QUE EU QUERO

Perguntam-me o que quero. O que quero? Não é difícil entender. E querem tanto saber! É tanto querer nesse querer saber que eu acho que a complicação está em tentar saber o que querem com esse querer saber o que quero! Complicado, não? Mas esse não sou eu!

Se quiserem mesmo saber o que quero, responderei em um tom claro e compreensível. Sabem o que quero? Eu quero que se foda!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

HISTORINHA ABSURDA

Andava pelas ruas. Tropeçou em uma cabeça. Isso mesmo! Uma cabeça decapitada! Levantou e continuou andando. Nem olhou para baixo. A cabeça rolou aos pés de outros. Os outros a chutavam sem olhar o que chutavam. A cabeça rolou pelo centro da cidade.

É a pura arte do futebol! É a magia do esporte contemporâneo!

Os urubus que sobrevoavam a cidade avistaram a cabeça de lá de cima e não se intimidaram com as centenas de pessoas que circulavam pelas ruas. Pousaram e devoraram os restos mortais. Que refeição maravilhosa!

As senhoras passavam com pressa de ir à feira, as crianças passavam com pressa de ver os amigos, o homem passava ouvindo seu fone de ouvido. E no mp3 o som que rolava era de João Bosco, “De Frente Pro Crime”.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

FÁBULA CONTEMPORÂNEA

E o lobo correu atrás do porquinho desfavorecido. O porquinho correu, correu, correu... Correu até chegar à ocupação na qual morava. Entrou e fechou a porta. Então o lobo gritou:

- Abra essa porta, porquinho!
- Não abro, não!

O lobo, injuriado, recorreu à Justiça e conseguiu uma ordem de despejo. O porquinho teve que sair da ocupação apanhando da polícia canina. Passado esse apuro, para que o lobo não o comesse, o porquinho desfavorecido buscou abrigo no barraco do porquinho suburbano.

Mas o lobo não desiste de suas presas. Encontrou o barraco, ficou à porta e percebeu que os dois porquinhos estavam lá dentro. Então o lobo gritou:

- Abram essa porta, porquinhos!
- Não abrimos, não!

Na hora em que o lobo pensou em chutar o pau do barraco, a polícia canina invadiu o morro em uma ação pacificadora, expulsando todo mundo da favela. Nessa confusão toda, os porquinhos tiveram que se mudar para a casa do porquinho da casa de tijolos. E o lobo já tinha criado uma obsessão pelos porquinhos. Foi atrás!

Dentro da casa de tijolos estavam o porquinho desfavorecido, o porquinho suburbano e o porquinho dono da casa. O lobo já estava do lado de fora, à espreita, esperando que eles saíssem do lar para que pudesse fazer seu banquete. Cansado de esperar, resolveu gritar:

- Abram essa porta, porquinhos! Eu estou aqui!
- Não! Nós não abrimos, não!

O lobo pensou em arrombar a porta, mas analisou bem e resolveu ir embora.

No dia seguinte, enquanto os porquinhos estavam dentro da casa de tijolos, a terra deslizou! Era uma área de risco. A avalanche de lama afundou a casa e os porquinhos.

Moral da história: Quem muito quer, se vira! Quem nada tem, se fode!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

AQUELA VELHA HISTÓRIA...

Não! Eu não quero me sentir satisfeito! E por que querer? É aquela velha história do “limitar-se”.

O dia em que me sentir satisfeito é porque limitei meus anseios nas coisas que vejo, que sinto, que tenho. Aí morrem desejos, morre a criatividade... morre a poesia! Ah, a poesia não pode morrer!

Não que eu não tenha apreço por nada. Tenho até demais. Por tudo! E por isso prefiro apreciar cada coisa, em todo tempo, desejando sempre o impossível. Desejar o possível seria aquela velha história do “limitar-se”.

Veja bem: se quero algo corro atrás. Se algo na busca me incomoda, paro. Paro porque não estou buscando incômodo. Isso não quer dizer que eu já não queira. Deixar de querer por conta de algum contratempo entraria naquela velha história do “limitar-se”.

E por isso meus anseios me bastam! Eu vivo de anseios impossíveis, corro e paro, paro e corro, sou instável. Isso me motiva! Isso me faz satisfeito!

Eu disse satisfeito? Merda!