- Tô ficando velho.
- Normal. Mais novo não dá pra ficar.
- Eu sei, mas eu tô sentindo a velhice.
- Sei como é. Passar dos vinte e dois é assim mesmo.
- Mas vinte e dois ainda é juventude. Por que me sinto assim?
- Porque a vida tá acabando, oras.
- É. A vida tá acabando. Tô ficando velho.
- Tá mesmo. Isso dá pra ver nitidamente.
- Por quê? Tenho rugas? Falhas no cabelo?
- Não, nada disso.
- Então por quê?
- Porque você tá falando sozinho, oras.
- Não to, não! Eu estou escrevendo.
- Escrevendo, é? Hmm... Então você está criando um diálogo em que, na verdade, não tem ninguém falando nada?
- Ah... acho que é exatamente isso.
- Velho!
- É. Tô ficando velho. Mas ainda não falo sozinho. Não. Não falo sozinho. Claro que não. Por que faria isso? Imagina! Claro que não tenho motivo. Ah... Porque tô velho, né? Prefiro escrever.
Após terminar de escrever esse texto, eu falei sozinho.
Pensei:
- Acho que vou tirar a última fala. Por quê?
Falei comigo mesmo:
- Porque não vai ter o efeito que quero!
Por Mao Punk: NÃO ACONSELHADO A PURITANOS! Aqui estão meus textos que expõem a fragilidade e indecência humanas, onde o real se mistura com o fictício. Muitos dos textos aqui presentes podem ofender por expor o lado mais indesejável dos seres humanos. Palavrões, conotações sexuais e violência são frequentes. Não leia se isso não te agrada. Boa leitura.
"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.
Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.
Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
DUAS MÁXIMAS DE INSTIGAÇÃO
I
O homem instigado almeja até irrelevâncias.
II
Um homem instigado é um demônio evocado.
O homem instigado almeja até irrelevâncias.
II
Um homem instigado é um demônio evocado.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
A MÁXIMA DAS RESPOSTAS NÃO DADAS
É possível fugir das perguntas que lhe fazem, mas as respostas que tu calas acompanhar-te-ão os pensamentos.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
SANGUE-DE-SER-HUMANO
Sou uma barata. Quero falar com você. Não, por favor, não me pise! Só quero desabafar!
Sei que não sou muito limpa, é fato. Mas o que me atrai para cá é justamente essa sujeira toda! Bem... às vezes precisamos dividir nosso habitat com o próximo, não? Não?! Enfim, espero não lhe chatear demais.
Preciso confessar: estou brava. Muito brava! É horrível quando ninguém respeita as diferenças! Tão logo apareço e tenho que ouvir gritos estridentes de mulheres. Porra, eu não grito quando vejo alguém diferente de mim! Pior mesmo é ser agredida pelo simples fato de eu estar de passagem. Aí vêm sapatos, chinelos, spray, o que tiver, tudo em cima de mim. Por favor, eu só quero que respeitem meu espaço!
Esses dias eu estava procurando algum lugar para dormir. Acabei entrando em uma casa de gente mal educada. Um homem sentando no sofá, uma mulher sentada à mesa. Eu andava pela parede quando a mulher me avistou e, adivinha, soltou aquele grito irritante e jogou uma faca em minha direção! Uma faca! Voei assustada para o outro canto. Aí ela grita para o homem:
- Ai, bem! Uma barata com asas enormes! E ela voa!
O que ela esperava? Que eu nadasse? E o homem, muito educado, diz para a mulher:
- Ê, caralho! Então mata ela, porra!
É muita insensibilidade! Consegui voar para fora da casa e pude ouvir a mulher chorando, reclamando para o homem que ele não a amava mais. Eu que quase morro e ela quem chora. Se ela não tem mais amor, então o que me sobra? Ser barata é, desculpe o linguajar, foda!
Enfim, perdoe-me por tomar seu tempo. Já vou indo. Mas, para terminar, depois de tudo isso, só quero fazer uma pergunta:
O que vocês querem dizer quando chamam alguém de “sangue-de-barata”?
Sei que não sou muito limpa, é fato. Mas o que me atrai para cá é justamente essa sujeira toda! Bem... às vezes precisamos dividir nosso habitat com o próximo, não? Não?! Enfim, espero não lhe chatear demais.
Preciso confessar: estou brava. Muito brava! É horrível quando ninguém respeita as diferenças! Tão logo apareço e tenho que ouvir gritos estridentes de mulheres. Porra, eu não grito quando vejo alguém diferente de mim! Pior mesmo é ser agredida pelo simples fato de eu estar de passagem. Aí vêm sapatos, chinelos, spray, o que tiver, tudo em cima de mim. Por favor, eu só quero que respeitem meu espaço!
Esses dias eu estava procurando algum lugar para dormir. Acabei entrando em uma casa de gente mal educada. Um homem sentando no sofá, uma mulher sentada à mesa. Eu andava pela parede quando a mulher me avistou e, adivinha, soltou aquele grito irritante e jogou uma faca em minha direção! Uma faca! Voei assustada para o outro canto. Aí ela grita para o homem:
- Ai, bem! Uma barata com asas enormes! E ela voa!
O que ela esperava? Que eu nadasse? E o homem, muito educado, diz para a mulher:
- Ê, caralho! Então mata ela, porra!
É muita insensibilidade! Consegui voar para fora da casa e pude ouvir a mulher chorando, reclamando para o homem que ele não a amava mais. Eu que quase morro e ela quem chora. Se ela não tem mais amor, então o que me sobra? Ser barata é, desculpe o linguajar, foda!
Enfim, perdoe-me por tomar seu tempo. Já vou indo. Mas, para terminar, depois de tudo isso, só quero fazer uma pergunta:
O que vocês querem dizer quando chamam alguém de “sangue-de-barata”?
terça-feira, 19 de outubro de 2010
O PAPEL CAÍDO
R= rapaz
G= garota
O rapaz se aproximou da garota. Ele então jogou um papel no chão e disse:
R – Ei, garota! Você deixou cair esse papel!
G – Não. Não deixei, não.
R – Sim. Você deixou.
G – Não! Eu não deixei! Você mesmo deixou cair esse papel.
R – Hmm... Nesse caso, você deixou esse papel cair da minha mão.
G – Então não fui eu quem deixou cair, foi você!
R – Ok! Eu deixei cair esse papel e estou lhe entregando, certo? – diz o rapaz recolhendo o papel do chão.
G – E por que eu deveria pegar um papel que você deixou cair?
R – Ah... esqueça!
O rapaz então jogou o papel no chão e se retirou. A garota apanhou o papel, sem o ler, e foi atrás do rapaz:
G – Ei! Você deixou o seu papel no chão.
R – Ah, não me diga!
G – Você não vai pegá-lo de volta?
R – E por que deveria?
G – Porque é seu, talvez.
R – Pois está na sua mão. Agora é seu!
G – Pois não está mais!
E a garota jogou o papel no chão novamente. O rapaz o apanha e diz:
R – Ora, pegue logo esse papel que você jogou!
A garota pensou por alguns segundos e disse:
G – E se eu falar que não joguei e que deixei cair?
R – Então eu lhe devolvo esse papel que você deixou cair.
G – Tá certo. Você venceu. Me dê o papel.
R – Mas você o jogou ou deixou cair?
G – Que diferença isso faz? Acho que estamos dificultando demais as coisas!
R – Pois então pegue logo o papel!
G – Ah... agora também não quero mais!
R – Não é possível! Não é possível! Aahh!
Novamente o rapaz joga o papel no chão e se retira. A garota o apanha mais uma vez, pensa por mais alguns segundos e resolve deixar o papel ali no chão mesmo.
Um outro rapaz que passava por lá nesse instante, ao olhar o papel caído, o recolhe, se dirige até a garota e diz:
- Ei, garota! Você deixou cair esse papel.
G= garota
O rapaz se aproximou da garota. Ele então jogou um papel no chão e disse:
R – Ei, garota! Você deixou cair esse papel!
G – Não. Não deixei, não.
R – Sim. Você deixou.
G – Não! Eu não deixei! Você mesmo deixou cair esse papel.
R – Hmm... Nesse caso, você deixou esse papel cair da minha mão.
G – Então não fui eu quem deixou cair, foi você!
R – Ok! Eu deixei cair esse papel e estou lhe entregando, certo? – diz o rapaz recolhendo o papel do chão.
G – E por que eu deveria pegar um papel que você deixou cair?
R – Ah... esqueça!
O rapaz então jogou o papel no chão e se retirou. A garota apanhou o papel, sem o ler, e foi atrás do rapaz:
G – Ei! Você deixou o seu papel no chão.
R – Ah, não me diga!
G – Você não vai pegá-lo de volta?
R – E por que deveria?
G – Porque é seu, talvez.
R – Pois está na sua mão. Agora é seu!
G – Pois não está mais!
E a garota jogou o papel no chão novamente. O rapaz o apanha e diz:
R – Ora, pegue logo esse papel que você jogou!
A garota pensou por alguns segundos e disse:
G – E se eu falar que não joguei e que deixei cair?
R – Então eu lhe devolvo esse papel que você deixou cair.
G – Tá certo. Você venceu. Me dê o papel.
R – Mas você o jogou ou deixou cair?
G – Que diferença isso faz? Acho que estamos dificultando demais as coisas!
R – Pois então pegue logo o papel!
G – Ah... agora também não quero mais!
R – Não é possível! Não é possível! Aahh!
Novamente o rapaz joga o papel no chão e se retira. A garota o apanha mais uma vez, pensa por mais alguns segundos e resolve deixar o papel ali no chão mesmo.
Um outro rapaz que passava por lá nesse instante, ao olhar o papel caído, o recolhe, se dirige até a garota e diz:
- Ei, garota! Você deixou cair esse papel.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
UM SÓ
Eu acho que estou surtando. Agora mesmo eu quis me abraçar e me consolar pela tristeza que sinto. Mas será que isso é tão desequilibrado assim?
Se bem que, como é que eu, que sou triste, poderia consolar minha tristeza se sofro do mesmo mal que eu? Se bem que, vendo por esse ângulo, só eu sei o que estou passando. Acho que darei esse crédito a mim.
Eu posso deixar que eu me console, mas não sei se eu saberia retribuir, afinal, sei que eu que me consolo sofro da mesma coisa que eu. E se eu não souber me consolar depois?
Ah... esquece! Que besteira! Eu sei que saberei me entregar a mim. E o pranto caído será um só.
Se bem que, como é que eu, que sou triste, poderia consolar minha tristeza se sofro do mesmo mal que eu? Se bem que, vendo por esse ângulo, só eu sei o que estou passando. Acho que darei esse crédito a mim.
Eu posso deixar que eu me console, mas não sei se eu saberia retribuir, afinal, sei que eu que me consolo sofro da mesma coisa que eu. E se eu não souber me consolar depois?
Ah... esquece! Que besteira! Eu sei que saberei me entregar a mim. E o pranto caído será um só.
sábado, 9 de outubro de 2010
PENSANDO NO CÉU
Ele era do tipo bonitão. Não era tão bom de papo, mas nunca precisou ter conversa. Sua beleza, nesses casos, era suficiente.
Sempre tinha com quem transar. Sua vida era foder, foder e foder. Gostava de se exibir para os outros e ostentava as mulheres com quem já meteu como troféus.
Nunca perdeu uma oportunidade de inferiorizar os outros e ficava sempre em alerta no caso de aparecer alguma mulher.
Ele já trepou com mais de mil mulheres e sorria para si mesmo por isso.
Diriam que ele tem tudo o que deseja. Mas não. Era uma fuga por não ter nada de concreto em sua vida.
Ele transava pensando no céu.
Sempre tinha com quem transar. Sua vida era foder, foder e foder. Gostava de se exibir para os outros e ostentava as mulheres com quem já meteu como troféus.
Nunca perdeu uma oportunidade de inferiorizar os outros e ficava sempre em alerta no caso de aparecer alguma mulher.
Ele já trepou com mais de mil mulheres e sorria para si mesmo por isso.
Diriam que ele tem tudo o que deseja. Mas não. Era uma fuga por não ter nada de concreto em sua vida.
Ele transava pensando no céu.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O TROPEÇO
O garoto andava pelas ruas, passeava feliz da vida. Subitamente tropeçou e caiu ao chão.
Todos que estavam na rua essa hora começaram a rir do garoto.
O garoto, extremamente sem graça com o acontecido, ficou calado por alguns segundos, olhando toda aquela gente rindo de sua cara. Em seguida, o próprio garoto começou a rir da situação, se levantou e voltou para casa.
Ao chegar em sua casa o garoto chorou sozinho em seu quarto.
Todos que estavam na rua essa hora começaram a rir do garoto.
O garoto, extremamente sem graça com o acontecido, ficou calado por alguns segundos, olhando toda aquela gente rindo de sua cara. Em seguida, o próprio garoto começou a rir da situação, se levantou e voltou para casa.
Ao chegar em sua casa o garoto chorou sozinho em seu quarto.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
O SEMÁFORO
Ele atravessou a rua, mas o sinal para pedestre estava fechado. Um carro quase o atropelou. Nisso, o motorista indignado para o caro e pergunta revoltado:
- Você não viu o sinal vermelho, não?!
E o rapaz responde:
- Não. Eu sou daltônico.
- Você não viu o sinal vermelho, não?!
E o rapaz responde:
- Não. Eu sou daltônico.
domingo, 3 de outubro de 2010
A OCASIÃO
Era um dia de final de semana. Ela acordou mais cedo do que costumava. Teve vontade de ler algum livro, mas o último que leu, no dia anterior, parecia bastar por aquele momento. Logo desistiu da ideia.
Ela foi se banhar. Tomou um banho caprichado, como se houvesse assim uma ocasião especial para aquele dia. Logo que saiu do banho se perfumou bem, sem exagerar na dose, mas deixando pelo ar, por onde passasse, um aroma de conforto.
Vestiu um lindo conjunto que lhe dava um toque de charme. Ela se maquilou, no intuito de ficar mais atraente. Ao se olhar no espelho sentiu-se satisfeita com o resultado da maquiagem, mas achou melhor vestir outra roupa, alguma mais bonita, alguma que lhe deixasse impecável. Assim fez.
Ela se olhou novamente no espelho. Estava incrível! Desfilou pelo quarto como se esperasse o relógio correr mais rápido, ao compasso em que seu perfume se espalhava no aposento, deixando o ar sutilmente agradável.
Após dois minutos, deitou-se em sua cama. Pensou em tudo o que não possuía, pensou bastante. Continuou deitada e assim permaneceu o dia todo.
Pegou no sono e dormiu lindamente, com toda a atenção que se deu, com todo o cuidado que se prestou, com toda a beleza que se permitiu.
Foi a ocasião mais feliz de sua vida.
Ela foi se banhar. Tomou um banho caprichado, como se houvesse assim uma ocasião especial para aquele dia. Logo que saiu do banho se perfumou bem, sem exagerar na dose, mas deixando pelo ar, por onde passasse, um aroma de conforto.
Vestiu um lindo conjunto que lhe dava um toque de charme. Ela se maquilou, no intuito de ficar mais atraente. Ao se olhar no espelho sentiu-se satisfeita com o resultado da maquiagem, mas achou melhor vestir outra roupa, alguma mais bonita, alguma que lhe deixasse impecável. Assim fez.
Ela se olhou novamente no espelho. Estava incrível! Desfilou pelo quarto como se esperasse o relógio correr mais rápido, ao compasso em que seu perfume se espalhava no aposento, deixando o ar sutilmente agradável.
Após dois minutos, deitou-se em sua cama. Pensou em tudo o que não possuía, pensou bastante. Continuou deitada e assim permaneceu o dia todo.
Pegou no sono e dormiu lindamente, com toda a atenção que se deu, com todo o cuidado que se prestou, com toda a beleza que se permitiu.
Foi a ocasião mais feliz de sua vida.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
QUANDO A PAZ CHEGOU
Quando a paz chegou, ele se deitou em sua cama, ouviu uma música harmoniosa, deixou o ar entrar por entre as janelas abertas e não conseguiu pensar em coisas graves (pois estas não mais haviam).
Era a paz naquele momento. Era um silêncio interior que acalentava. Não havia lágrima, nem dor. Era aquela paz e ele.
Quando a paz chegou não pediu licença, mas tirou-lhe para uma dança. Ele foi conduzido por esta paz, ficou tomado por uma irrefutável calmaria.
Quando a paz chegou, foi isso. Quando a paz chegou, ele não entendeu o que era a paz.
Era a paz naquele momento. Era um silêncio interior que acalentava. Não havia lágrima, nem dor. Era aquela paz e ele.
Quando a paz chegou não pediu licença, mas tirou-lhe para uma dança. Ele foi conduzido por esta paz, ficou tomado por uma irrefutável calmaria.
Quando a paz chegou, foi isso. Quando a paz chegou, ele não entendeu o que era a paz.
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