"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TRONO METROPOLITANO

Era o cenário ideal para iniciar um grande romance metropolitano, um belo romance da cidade grande!

Horário de pico, ônibus em direção à zona oeste. Para o horário, o ônibus estava vazio. Consegui um assento ao fundo. Era um daqueles bancos individuais, feitos para que se carregue mais desolados em pé ou feito sob medida para os mal amados e ranzinzas. De qualquer forma, era eu quem estava lá.

Havia, claro, pessoas que não conseguiram se sentar. E não era por dor de cu. Simplesmente não existia sequer um banco disponível, o que é de se esperar de um ônibus da capital.

Eis que entra no veículo a estrela da história. Era uma garota jovem. Magra, mas com um belíssimo corpo. Cabelos pretos, rosto encantador e olhos maravilhosamente castanhos. Ficou em pé, logicamente. Estava de costas para mim, próxima a meu assento. Eu podia ver aquela bundinha delicada e gostosa, aquela cintura sedutora, aqueles cabelos negros... bendito seja o horário de pico!

Eu não conseguia parar de admirar aquela linda garota. Por um momento ela olhou para trás, despretensiosamente, e seus olhos encontraram os meus. Eu a olhava com os olhos de encanto ou desejo. Logo seus olhos desviaram. Voltou a olhar para frente.

Imã. Ela era feita de imã e meus olhos eram metais, vulneráveis à atração! Eu podia sentir meus olhos querendo saltar das órbitas para colar naquela beldade. De repente, como quem arranja pretexto para olhar para trás, ela virou de lado, olhou ao redor e passeou seus olhos nos meus.

Céus! Eu poderia ter me apaixonado! Ela olhou diversas vezes. Havia percebido que eu a admirava. E acreditei que ela me admirava igualmente.

O assento à minha frente esvaziou, outro banco para mal amados, assim como o meu.

Ela sentou-se ali. Oh! Já não era mais um banco de mal amados! Era recanto de beleza, trono de princesa urbana, ninho de formosura em meio ao caos da metrópole!

Sim, ela estava sentada à minha frente. Céus, eu estava sentado atrás dela! Até o trânsito congestionado sugeria nosso enlace: o ônibus parado, motor ligado, fazendo com que o veículo desse pequenos solavancos para frente e para trás, para frente e para trás, para frente e para trás...

Eu a olhava fixamente. Ela olhava pela janela, mas seus olhos sempre fugiam e, disfarçadamente, olhavam os meus.

Nós estávamos namorando. Sim, era início de namoro, tímido, desajeitado, cheio de desejo! Nossos olhos diziam isso!

De repente, sua mão direita arrumou seus cabelos e... puta que pariu! Eu vi uma aliança em seu dedo! Como ela pôde?! Ela me traiu! Tudo bem, tudo bem. Resolvi perdoá-la e continuei nosso romance.

Era noite e começava a esfriar. Ela tirou de sua mochila uma blusa rosa. Ajeitou os cabelos e começou a vestir a blusa. Eu olhava seus movimentos como se ela estivesse fazendo um strip-tease. Era um strip às avessas, mas igualmente fascinante, ao menos para mim que poderia passar o resto da noite a observando, com ou sem roupas. Ela ainda me olhava disfarçadamente.

Eu não conseguia disfarçar. Eu a olhava descaradamente! Eu queria sorrir para ela! Eu a queria comigo!

Mas ninguém nunca morou em um ônibus e veio o momento em que ela chegou a seu destino. Levantou de seu assento, caminhou até a porta que ficava na parte central do ônibus e desceu sem olhar para trás.

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