Com gentileza, ela pediu que
lhe passasse o molho de pimenta:
- Por favor, você poderia me
passar a pimenta depois de usar?
Assim que terminou de usar, ele
colocou o frasco do molho sobre a mesa.
- Você não escutou o que eu
disse?! – Perguntou indignada – Ei! A pimenta!
- Desculpa! Aqui está – Ele pegou
novamente o frasco e estendeu a mão a ela.
Sem que ela colocasse uma gota
sequer do molho em seu lanche, bateu o frasco com certa força na mesa e
reclamou:
- Será que você não presta
atenção em nada? Que saco! É mais fácil comer sozinha do que comer com você,
porque pelo menos teria um galheteiro com tudo o que eu quero à minha
disposição.
- Você está falando sério? – Perguntou
ele em um tom calmo, porém desconfiado.
- Não, não! Estou mentindo!
Não existem galheteiros na porra de nenhuma lanchonete. – Disse ela em tom
irônico – O que você acha? Pareço estar brincando com você?
- Céus! Você nunca falou assim
comigo! Eu não acredito que você se irritou por conta de um frasco de molho de
pimenta!
- Não é a merda do frasco,
cacete! É você!
- Eu?! Você não pode estar
falando sério! O que está acontecendo? Estou espantado com sua atitude!
- Eu não aguento mais! É muita
coisa para eu aguentar! – O tom dessa vez pareceu, de certa forma, desesperado.
Ele segurou suas mãos com força. Indagou:
- O que você tem que aguentar?
Fala para mim. Sabe que estou aqui para ajudar no que for preciso.
Com a mão direita ela apanhou o copo de suco, enquanto a mão esquerda permanecia segurando a mão dele com força. Deu um ou dois grandes goles.
- Não, não é nada. Esquece. É
que... – Olhou nos olhos dele por três segundos, depois disso desviou o olhar.
Não suportou o olhar seguro que ele transparecia, aquele olhar firme, decidido,
tomado de razão e sentimento. Vagarosamente ele soltou sua mão esquerda.
- Eu entendo. Eu entendo... –
Lamentou-se ele.
Com a mão esquerda trêmula, ela
apanhou novamente o frasco do molho de pimenta e deixou-o cair ao chão. O
frasco quebrou-se em pedaços. Nada mais poderia ser aproveitado.
Após segundos eternos de
silêncio, os dois, com olhos marejados, perguntaram um ao outro:
- E a conta, quem é que paga?