"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

domingo, 3 de janeiro de 2016

PIMENTA NA MÃO DOS OUTROS

Com gentileza, ela pediu que lhe passasse o molho de pimenta:

- Por favor, você poderia me passar a pimenta depois de usar?

Assim que terminou de usar, ele colocou o frasco do molho sobre a mesa.

- Você não escutou o que eu disse?! – Perguntou indignada – Ei! A pimenta!

- Desculpa! Aqui está – Ele pegou novamente o frasco e estendeu a mão a ela.

Sem que ela colocasse uma gota sequer do molho em seu lanche, bateu o frasco com certa força na mesa e reclamou:               

- Será que você não presta atenção em nada? Que saco! É mais fácil comer sozinha do que comer com você, porque pelo menos teria um galheteiro com tudo o que eu quero à minha disposição.

- Você está falando sério? – Perguntou ele em um tom calmo, porém desconfiado.

- Não, não! Estou mentindo! Não existem galheteiros na porra de nenhuma lanchonete. – Disse ela em tom irônico – O que você acha? Pareço estar brincando com você?

- Céus! Você nunca falou assim comigo! Eu não acredito que você se irritou por conta de um frasco de molho de pimenta!

- Não é a merda do frasco, cacete! É você!

- Eu?! Você não pode estar falando sério! O que está acontecendo? Estou espantado com sua atitude!

- Eu não aguento mais! É muita coisa para eu aguentar! – O tom dessa vez pareceu, de certa forma, desesperado. Ele segurou suas mãos com força. Indagou:

- O que você tem que aguentar? Fala para mim. Sabe que estou aqui para ajudar no que for preciso.

Com a mão direita ela apanhou o copo de suco, enquanto a mão esquerda permanecia segurando a mão dele com força. Deu um ou dois grandes goles.

- Não, não é nada. Esquece. É que... – Olhou nos olhos dele por três segundos, depois disso desviou o olhar. Não suportou o olhar seguro que ele transparecia, aquele olhar firme, decidido, tomado de razão e sentimento. Vagarosamente ele soltou sua mão esquerda.

- Eu entendo. Eu entendo... – Lamentou-se ele.

Com a mão esquerda trêmula, ela apanhou novamente o frasco do molho de pimenta e deixou-o cair ao chão. O frasco quebrou-se em pedaços. Nada mais poderia ser aproveitado.

Após segundos eternos de silêncio, os dois, com olhos marejados, perguntaram um ao outro:

- E a conta, quem é que paga?