"RESQUÍCIOS DEPRESSIVOS, SUJOS E NOJENTOS" trata-se de textos onde exponho de forma irônica, metafórica, crítica e subversiva a condição humana. Esse blog pode causar estranhamento e até mesmo raiva, pois mistura o real com o fictício sem embelezamentos, indo a fundo no que o ser humano tem de pior: a ignorância, a covardia, os tormentos, a utilização da sexualidade de forma desrespeitosa, os vícios, a solidão, etc. Qualquer semelhança entre fatos e os textos aqui presentes é mera coincidência. As características do texto não representam necessariamente o ponto de vista do autor que vos escreve.

Respeite a arte! Ao reproduzir em outros lugares a obra de algum artista, cite o autor. Todos os textos aqui presentes foram escritos por Mao Punk.

sábado, 29 de outubro de 2011

CUMPLICIDADE

Fui cúmplice. Daquele pranto fui cúmplice.

Não fui cúmplice da causa da dor. Aliás, desconheço a causa da dor, embora eu desconfie que em cada dor haja o mesmo vazio.

Fui cúmplice porque por dias segui aqueles olhos castanhos como quem busca o oásis no deserto. Desculpem-me a metáfora clichê e desajeitada, mas quem tem sede da vida não poderia apresentar outra ideia.

Segui aqueles olhos. E eles, por força de minha imaginação ou por força dos fatos, também seguiram os meus. Foi assim que me tornei parte do crime.

E não fui parte do crime de forma dolosa. Na realidade, nem culposa. Fui vítima, tão vítima quanto aqueles olhos castanhos chorosos.

Fui cúmplice de um momento doloroso. Fui parte daquela dor porque a dor daqueles olhos se espelhou nos meus. Ou será que meus olhos se espelharam naquela dor?

De qualquer forma o sentimento de impotência tomou toda a minha manhã e começo da tarde.

Fui cúmplice covarde. Covarde porque não derrubei meu pranto naquele momento. Covarde porque não disse “passará”. Meus olhos bem tentaram dizer, mas eles eram tão cúmplices, tão tristes!

Fui cúmplice. Daquele pranto fui cúmplice. E minha cumplicidade se fará em silêncio. Se fará em solidariedade ao silêncio daquele pranto gritante, gritando em silêncio de uma vontade de ser cúmplice de algum sorriso.